CONTEXTO: Os pacientes com câncer estão expostos a um maior risco de infecções da corrente sangüínea, as quais são a principal causa de morbidade e mortalidade intra-hospitalar. OBJETIVO: Descrever as características epidemiológicas e a etiologia das infecções da corrente sangüínea em um hospital de câncer. TIPO DE ESTUDO: Estudo descritivo. LOCAL: Centro de Oncologia Terciária. PARTICIPANTES: Durante um período de 24 meses todos os pacientes hospitalizados e com infecções da corrente sangüínea, clinicamente significante, foram avaliados de acordo com diversos fatores clínicos e demográficos. RESULTADOS: O estudo compreendeu 435 episódios de infecções da corrente sangüínea (349 pacientes). A maioria dos episódios de infecções da corrente sangüínea ocorreu em pacientes não-neutropênicos (58,6%) e com menos de 40 anos de idade (58,2%). Houve uma maior ocorrência de infecções unimicrobianas (74,9%), de episódios nosocomiais (68,3%) e de origem indeterminada (52,8%). Cateteres venosos centrais estiveram presentes em 63,2% dos episódios. Os estafilococos foram os principais patógenos isolados em pacientes com doenças hematológicas e tumores sólidos (32% e 34,7%, respectivamente). A Candida albicans foi o microorganismo predominante nos 70 episódios de fungemia. Os fungos foram identificados em 52,5% das infecções da corrente sangüínea persistentes e em 91,4% das infecções em pacientes portadores de CVC. Bacilos Gram-negativos foram responsáveis pela retirada dos Cateteres venosos centrais em 45,5% dos episódios. Uma resistência à oxacilina foi detectada em 26,3% dos Staphylococcus aureus e em 61,8% dos Staphylococcus coagulase-negativa. Não foi evidenciado nenhuma cepa de enterococos resistente à vancomicina. A terapia antimicrobiana inicial foi considerada apropriada em 60,5% dos casos. CONCLUSÃO: A identificação do perfil microbiológico das infecções da corrente sangüínea e o reconhecimento dos possíveis fatores de risco em pacientes oncológicos de alto-risco poderiam ajudar no planejamento e na condução de medidas mais efetivas na prevenção e controle das infecções, além de permitir a elaboração de estudos analíticos que busquem reduzir as graves complicações infecciosas neste grupo de pacientes.
CONTEXT: Cancer patients are at unusually high risk for developing bloodstream infections (BSI), which are a major cause of in-hospital morbidity and mortality. OBJECTIVE: To describe the epidemiological characteristics and the etiology of BSI in cancer patients. DESIGN: Descriptive study. SETTING: Terciary Oncology Care Center. PARTICIPANTS: During a 24-month period all hospitalized patients with clinically significant BSI were evaluated in relation to several clinical and demographic factors. RESULTS: The study enrolled 435 episodes of BSI (349 patients). The majority of the episodes occurred among non-neutropenic patients (58.6%) and in those younger than 40 years (58.2%). There was a higher occurrence of unimicrobial infections (74.9%), nosocomial episodes (68.3%) and of those of undetermined origin (52.8%). Central venous catheters (CVC) were present in 63.2% of the episodes. Overall, the commonest isolates from blood in patients with hematology diseases and solid tumors were staphylococci (32% and 34.7%, respectively). There were 70 episodes of fungemia with a predominance of Candida albicans organisms (50.6%). Fungi were identified in 52.5% of persistent BSI and in 91.4% of patients with CVC. Gram-negative bacilli prompted the CVC removal in 45.5% of the episodes. Oxacillin resistance was detected in 26.3% of Staphylococcus aureus isolates and in 61.8% of coagulase-negative Staphylococcus. Vancomycin-resistant enterococci were not observed. Initial empirical antimicrobial therapy was considered appropriate in 60.5% of the cases. CONCLUSION: The identification of the microbiology profile of BSI and the recognition of possible risk factors in high-risk cancer patients may help in planning and conducting more effective infection control and preventive measures, and may also allow further analytical studies for reducing severe infectious complications in such groups of patients.